Depois
de ler a sinopse do livro da semana viajei até Roma, a terra do Adriano das
Memórias, e fui com a minha professora de História. Só podia ser com ela.
Explico porquê. A primeira vez que fui a Roma tinha acabado de chegar à 7ª
classe, em ambiente revolucionário, com todas as matérias curriculares em
mudança, todas não, a matemática, a física, o desenho e a biologia seguiram o
seu ritmo, felizmente para mim podia ter umas horas no horário da escola em que
parecia que nada mudava a não ser aprofundar os assuntos e a exigência. As
outras disciplinas foram viradas do avesso, ou do direito, mudaram a linguagem,
a separar os complementos diretos, os sujeitos e os predicados, aprendemos a
definição de reacionário, explorador do povo, colonialista, luta de classes,
consciência de classe (gosto desta!) e por aí fora, em português, em inglês e a
geografia passou a ter o mapa mundo centrado no hemisfério sul. Até a primeira
aula de História, não havia livros nem manuais escolares, o programa e as
matérias eram surpresa, e a surpresa foi enorme: a professora de História, uma
mulher imponente, lábios pintados de encarnado, pulseiras, colares, anéis,
roupa colorida e esvoaçante, contrastante com o clima ascético e puritano
revolucionário, anuncia em voz bem alta: “vamos viajar a Rrrrroma”, com muitos
erres. Eu arregalei os olhos e abri a boca de espanto, para mim Roma era a
capital de Itália e romanos os inimigos idiotas do Asterix. Mas não. Os
romanos, a civilização romana, a arquitetura, a engenharia, a organização política,
as mortes, o circo foram o princípio da nossa cultura. Uma revelação. Um
choque. Afinal somos todos descendentes dos romanos. Inesquecível professora de
História e a sua viagem guiada a Rrrrroma. Não consigo conceber Roma sem ela,
amiga de Adriano e fazendo parte das suas memórias, de certeza.
Mónica